Monday, June 04, 2007

Eu e as folhas

Eu escrevo a partir das dores de um tempo
De uma casa amarela,
Rígida como o vento
À insensatez do frio.

Eu escrevo diante das sombras
Do malefício causado pela guerra
Do desperdício de água,
Do vício em mágoas sob a Terra.

Eu escrevo com forma
Conforme as coisas me saboreiam e me desagradam,
Conforme eu esquento uma sopa
E anoiteço me desinformando.

Eu escrevo por acreditar nos homens
E por desacreditar,
Escrevo por onda de imaginar
Você, nós dois, o mundo inteiro,
Eu e as folhas.

Eu escrevo porque às vezes me parece tudo certo
E a maioria delas, tudo errado.
Eu escrevo porque canso vez em quando,
Porque cansei de narrar este fado.

Eu escrevo porque eu canto
E o meu canto é minha voz,
Minha estrada, meu caminho, a foz
Da alvorada que reivindica em mim o cômodo.

Eu escrevo por nada ser
Por nada e pelo ser,
Eu escrevo porque hoje me assaltaram meios segundos de felicidade
E me ocuparam como contraventor da moral e dos bons costumes
- coisa que muito me animou a perecer lutando.

Eu escrevo porque não há dinheiro em espécie que compre minhas idéias,
Meus restos,
Minhas sobras,
Minhas rédeas.

Eu escrevo porque não sou alegoria
De carnaval
Nem autor de um mundo elegante,
Sou apenas mais um escritor errante.

No comments: