Sunday, February 25, 2007

João andava na rua... corria que nem um só. Pulava corda, jogava sete-pedras, chupava geladinho, pegava na bunda das meninas e ouvia lorotas dos velhos na esquina.
João era menino danado de esperto, só não gostava de ver sua mãe só, em casa, chorando aos cantos pela saudade que apertava quando Ramiro, pai do garoto, não aparecia aos domingos.
Pois é, João cresceu e foi correr mundo. Hoje é caminhoneiro, homem honesto e batalhador. Não tem mulher, mas quando aparece alguma em seu percurso é com respeito que as trata. E olha que João nem entrou pra igreja, nem precisou frequentar seminário ou nada disso. Pelo contrário, João gosta mesmo é de tocar uma viola, tomar seu cafézinho ao entardecer, comer um bom do arrumadinho na beira da estrada e folhear seu mais novo livro - o Livro dos Sonhos, de Jack Kerouac.

rubro-negro

minha mirada
é meu plano-sequência

minha amada
é de tanta reticência

ah! meu pranto
cai, mas esconde o orgulho

santo
eu não levo embrulho

nem juro
que vou te aceitar

mas duro
quero não acontecer no porvir de amar.

de lá de casa, de cá da estrada

o portão da casa,
a garagem esverdeada,
as janelas laterais,

a cozinha dos guardanapos, dos pratos,
dos panos de pratos
e das refeições,

os banheiros, o lavabo,
o tempo que se gasta e o tempo que se usa,
"Olha a água menino!"


o quarto,
da solidão e do aprendizado farto,
da rede de amigos, da libido e da angústia em não haver outro lugar pra eu vagar por aí,

a sala, a tevê,
a rotina e o simples prazer
em estar ali,

o quintal,
cachorros e o festerê dos finais de semana,
que tal, uma cervejinha antes do almoço?

é corrida a casa,
é corrido o mundo,
vaguei e me perdi, me encontrei, saí...

fui ver a vida debaixo dos trópicos,
e não me apetece os nórdicos,
mas carrego no umbigo humildade

pra volver
e orquestrar minha felicidade,
pra saber e pra disfrutar da mocidade,

hoje me achei no infortúnio
de não corresponder,
pois bem, amanhã almejo nos engrandecer,

e se valho a esperança
é então porque aqui cabe muita lembrança
do tempo em que fui irmão

e que fui filho,
do tempo em que os sonhos não floresciam na realidade
e que sequer se anunciavam as estações pra sorrir,

do tempo em que se comia menos besteira,
em que a gente inventava brincadeira
pra um só ao outro se fazer notável.

pois bem pai, pois bem mãe, pois bem rai,
eu reconheço a ausência dessa tinta de mim,
mas é que vocês também me ensinaram assim,

e hoje sou muito daquilo que vocês me construiram,
e que agradeço,
por zelo,

por uma singela forma de compor
a gratidão e o amor
que vocês me têm e me tiveram.

eu e vovó

As lendas de vovó
muito em nó
desataram
na melancolia
que me partiram
de nostalgia
no exílio.

Ao sul eu volto
e voltarei aqui,
ao meu canto,
um dia
e outros tantos,
para aí quem sabe
trazer vovó
pra cá,
pra ver poesia
na costa do mar.

Friday, February 23, 2007

agrestivos

- cabra agrestivo aquele que rogou perecer no tronco de Madalena. pouco sabia do envaidecer daquela fêmea.
-e era fêmea bixim?
- pois ora pois! e num era. era fêmea que nem tua mãe, aquela disgramada que conseguiu parir pra lá de uma cacetada.
- oxe home, fale assim de mãe não!
- ah! então pare de me atrapalhar de fabular. ói de lado que eu vou continuar de contar a estória pra Josias. viu Josias?
- oxe home! Josias já dormiu tem teeeempo...
- é, e tu nem pra avisar, né diacho?
- como que ia avisar? tu com esse tal fascínio pra ficar contando as coisa, sem querer que ninguém fale nada.
- mas avisar que o menino tava dormindo pelo menos tu podia, né?
- podia, mas tu parece mais um ditador quando a gente fala contigo.
- oxe diabo, queta vai! depois os outro que tão lendo esse caso vão achar que eu sou tirano mesmo.
- e tu né não?
- sou não. não te bato, não te espanco, não te abuso.
- mas me reprime.
- oxe, tá dodia é mulhé?
- tô dodia coisíssima niuma! quem é que não deixa eu falar o que penso na hora que eu quero? quem é, quem é? eu sou é mais uma dessas tuas personagens de fabulação que tu inventa e que sofre de amor, que sofre de angústia por não poder comer outra maçã, por não poder comer sequer maçã.
- queta mulhé! eu não quero que tu passe de mentirosa na frente dos outros não. isso não tá bonito não.
- tá vendo, tá? é pra isso que tu me quer. pra posar comigo. a mulhézinha arrumada, que fica de boca fechada, que não mente, que não trai e que certamente deve ser muito feliz e gozar contigo a noite inteira.
- ah diabo! agora tu vai ver quem é que não goza!

... e assim Nivaldo Sete Contos correu pra cima de Maria Belisca e a espancou num ritmo cinematográfico. Ele até sentiu tesão durante o ato, mas não resistiu ao fato dela noticiar sua morte masculina, ou pelo menos informações que nos levássemos a isso ou (a) quilo.

Formavam um casal bonito, como esse, como aquele, como tu e como eu, mas se desfez na reprodução de discurso e de ação. De versão machista, segregadora e que se repete mundo afora.
Hoje um imbecil qualquer perguntou pelo nordestinozinho de merda que escreve essas coisas daí de cima e daqui de baixo, e imprimiu mais uma vez sua postura racista em relação ao meu povo e a mim. Venho através de coisa qualquer me fazer agrestivo e dizer que pão não me falta - pelo menos nessa conveniência -, mas já me faltou vez em quando e que somos todos emergentes para manifestar, viver e sumir desse rodízio de orgias e congressos. E sem mais nem menos, sem lema ou sem egresso, escrevo. Com mais, com menos, com uma bagunça na cabeça, com uma porção de cabelo pra tratar, ou não, e com um rebanho de idéia pra prender e aprender. Enfim, bêbado pra carai, só venho aqui pra não dizer que fui jogado às matas virgens do anoitecer. Sou santo sem fé, de lá do Agreste, criado por mãe, por pai, por vó e por gente simples, que me ensinou a gostar da vida e que falou: "vai meu filho, vai criar juízo!"
... e assim eu criei um juízo da porra. Desses de sacudir as estruturas, e quiçá, explodir na atmosfera parabólica dos arautos. Eu só não quero ser pregador de ninguém, nem sequer de mim, roupa amarela e singela da menina dos olhos d´agua - Terra.
Sou rocha viva também e digo mais: quem procura acha um cachorro pra brincar de pique-esconde, seja na selva ou em casa. Melhor é sair pra ver o mundo lá fora daqui da cabeça, de uma câmera 35mm ou de um passeio experdicionário.

Valerá a gente gozar antes, entre ou depois?

Entre nego, entre negas!

Monday, February 05, 2007

baunilha com mangaba

pois bem
lua,
aquém
de qualquer rua,

eu caminho entre as nuvens
e seja lá por onde houver acaso
costuma ser no ocaso
que me acontece ver

você
numa canção
de constelação
maior que o meu anoitecer.

Thursday, February 01, 2007

Que Léo Goze O Existir

As cores deste fado
são dor
de limão
e amor
de mangaba.

Santo Amaro
gosto um bocado
e hoje viajei demais
na dela.

janela
de música
é sentir,
abrir
o coração.

ver gente
contente,
sem dente,
comendo pão,
tomando cerveja,
tomando na cara.

que tara
do povo,
ao novo
eu faço cinema
só pra ela
sem lema,
só, sem trela.

Luna, das cores
dentre os meus amores
hoje,
eis a mais bela.

a mais cheiro de fubá,
o mais ligeiro ônibus que eu pegar,
a mais, a menos,
o mais, o menos...
a menos extremista,
o menos grosseiro motorista.

Luna,
tão linda,
que veio, que vim
assim...
bem-vinda ao meu leve prosear!

cana-de-açúcar que ficou do caldo
dinheiro que zerou meu saldo
alegria
que valeu meu dia

e que virá amanhã
na van
de voltar pra casa
rasa
do acontecer.

viver
é bom
e é barato
é assalto
é dom

é dádiva
da luna
do céu...
que Léo
goze o existir.