Wednesday, November 11, 2009

Juízo Final

Olhei de cima a baixo,
Julguei,
Pensei em lhe dizer algo,
Recuei.
Deveras é a feiúra dos homens,
Deveras são os vícios,
Os delitos, as infrações,
Deveras são os assassinos,
Os esfomeados, os maltrapilhos,
Deveras são os bichos que avançam sobre nós,
Sobre nossas coisas, nossas terras, nossos pratos.
Tornei a examinar, olhei com todo cuidado,
Sujo se encontrava,
Inundado de fedor.
Desconfiei que viria com fúria,
Acossado,
Quando de repente,
Vi que olhou-me aos olhos,
E então percebi que errado estava, completamente.
Ele só queria uma mão, uma ajuda pra se levantar.

dedicado à Gabriel Garcia Márquez, por sua imensa sabedoria.

Monday, June 22, 2009

O Sangue Que Corre Nas Veias

Rasgo a poeira e o silêncio,
Rasgo a gravata, a calça de brim,
o jeans americano,
Rasgo a insensatez,
as tolices, as glórias,
Rasgo as ignorâncias,
a demagogia, os privilégios,
Rasgo a ordem,
a bandeira progressista, a narrativa canônica,
Rasgo, Esmago, Massacro.
Assassino?
É o caos,
O sangue que corre nas veias.

Monday, June 01, 2009

Maio

Há tempos que o vento de maio
Sacode o mundo com seus tentáculos,
Seja no meu quintal,
Nos rubros crepúsculos,
Na queda livre das mangas,
Seja nas greves dos trabalhadores.

Maio é mês das mães e dos amores,
Mês em que conheci uma garota
Num porto distante deste qual agora embarco,
Venta, é tarde, e logo vai ser noite.
Maio é assim: chove e as lágrimas do céu
Escondem o sorriso do sol.

Os galos já não cantam em alvorada
Os pássaros, estes se abrigam debaixo das árvores,
Os telhados, imundos de folha e de dor,
Sentem a falta dos gatos e dos seus zunidos de amor.

Maio é uma angústia só,
Verdade que lá do outro lado do mundo,
No hemisfério onde as pessoas se tratam com mais dureza
E menos calor,
Verdade que eles não comem manga como a gente,
Tampouco assistem aos infortúnios e mortes causados pela chuva,
Porém, sofrem da mesma tragédia
Que é a inveja e a justiça dos homens.

Maio é mês de revolta,
Das revoluções,
Mês de ver o cabelo abanando contra o vento,
De sentir o movimento das massas,
Dos móveis nos cômodos da casa,
Mês de fazer diferente.

Hoje, que é maio e que é domingo,
Sinto o frio do suor que alcança a gente,
Este quando a dor está presente,
Quando o tempo é de esperar.

E por amor,
Vale tudo,
Vale até morrer
Como o sol de maio.